Friday, March 31, 2006

Lira

Vampire by Victoria France

Vou até ti...

Deixo-me envolver pelo teu abraço
Inclino a cabeça,
descubro o meu pescoço,
Recolho-me no teu regaço

Sinto o poder do teu beijo
inebrio-me com o teu perfume
Torno o meu passado imémore
aqueço-me com o teu lume

E então, no termo da vida

Viajamos sem espaço, sem tempo, sem fim
Recebo-te, abrigo-te, e acolho-te...
no velho mundo da lira

Wednesday, March 29, 2006

O amar do mar

Boca do mar
beijo de sal
lábios da praia
pele de areia

língua de rio
decote de dunas
seios de ilhas
abraço do sol

correntes de desejo
cheiro de algas
ondas de prazer
espuma que rebenta

gemidos das gaivotas
gozo das nuvens
céu que se funde
no azul do mar

Carlos Seabra

Friday, March 24, 2006

Host of Seraphim - Dead Can Dance

Aqui está uma música com poder sobre mim. Não conhecia o vídeo, mas parece que lhe adivinhava o conteúdo …



“It has been proven that music influences humans both in good and bad ways. These effects are instant and long lasting. Music is thought to link all of the emotional, spiritual, and physical elements of the universe (Scarantino 29).”

Excerpt from “Music Power” Thesis by Laurence O'Donnell

Thursday, March 23, 2006

Chasing Rainbows by Nel Whatmore

eu: não imaginas o que me aconteceu esta manhã, coloquei roll-on na cara a pensar que era o meu creme diário!
lu: não acredito. Como foste fazer uma coisa dessas, estavas ensonada?
eu: sim, e pensativa... navegava em piloto automático…
lu: no que pensavas?
eu: que da tristeza nascem coisas bonitas
lu: ai ai ai, o que é que vai sair daí?
eu: pensava nos versos de Florbela, na obra de Dante, na solidariedade que por vezes cresce em tempos de aflição, na compreensão...
lu: humm...
eu: nos momentos engraçados que resultam da dormência que nos faz trocar o roll-on pelo creme de dia!
lu: isso de facto é giro lol

eu: :)

Wednesday, March 22, 2006

Now Playing...

"From then on indeed Love ruled over my soul, which was thus wedded to him early in life, and he began to acquire such assurance and mastery over me, owing to the power which my imagination gave him, that I was obliged to obey all his wishes perfectly."

Vide Cor Meum*


ITALIAN/LATIN
Chorus: E pensando di lei
Mi sopragiunse uno soave sonno
Ego dominus tuus
Vide cor tuum
E d'esto core ardendo
Cor tuum
(Chorus: Lei paventosa)
Umilmente pascea.
Appreso gir lo ne vedea piangendo.
La letizia si convertia
In amarissimo pianto
Io sono in pace
Cor meum
Io sono in pace
Vide cor meum

ENGLISH
Chorus: And thinking of her
Sweet sleep overcame me
I am your master
See your heart
And of this burning heart
Your heart
(Chorus: She trembling)
Obediently eats.
Weeping, I saw him then depart from me.
Joy is converted
To bitterest tears
I am in peace
My heart
I am in peace
See my heart

*A letra de Vide Cor Meum é inspirada por La Vita Nuova de Dante

A Love Story ...

Dante and Beatrice, 1883 by Henry Holiday

Dante encontrou Beatrice, pela primeira vez, em Florença (1274), tinha apenas 9 anos de idade e ela 8. Ela trajava de vermelho claro e trazia uma fita à volta da cintura. Dante apaixonou-se à primeira vista e fantasiou-a como sendo um ser angelical, nobre e cheio de virtudes. A partir desse dia, começou a frequentar lugares onde sabia poder vislumbrá-la, contemplá-la. Beatrice, no entanto, só lhe dirigiria a palavra volvidos 9 anos. Numa tarde de 1283 viu-a descendo a rua, vestida de branco. Acompanhada por duas mulheres mais velhas, Beatrice dirigiu-se a ele, cumprimentando-o. Tal feito encheu-o de alegria, recolhendo-se de seguida em casa, para pensar na sua amada. Já no quarto, adormeceu e teve um sonho que viria a ser o tema do seu primeiro soneto de La Vita Nuova, um dos maiores “poemas” românticos do mundo.

“And thinking of her a sweet sleep overcame me, in which a marvellous vision appeared to me: so that it seemed I saw in my room a flame-coloured nebula, in the midst of which I discerned the shape of a lord of fearful aspect to those who gazed on him: and he appeared to me with such joy, so much joy within himself, that it was a miraculous thing: and in his speech he said many things, of which I understood only a few: among them I understood this: ‘Ego dominus tuus: I am your lord.’
It seemed to me he held a figure sleeping in his arms, naked except that it seemed to me to be covered lightly with a crimson cloth: gazing at it very intently I realised it was the lady of the greeting, she who had deigned to greet me before that day. And in one of his hands it seemed to me that heheld something completely on fire, and he seemed to say to me these words: ‘Vide cor tuum: Look upon your heart. And when he had stood for a while, he seemed to wake her who slept: and by his art was so forceful that he made her eat the thing that burned in her hand, which she ate hesitantly.”

Excerpt from Dante’s La Vita Nuova , Translated by A.S.Kline.

Vem Vento, Varre

The tree
Vem vento, varre
sonhos e mortos.
Vem vento, varre
medos e culpas.
Quer seja dia,
quer faça treva,
varre sem pena,
leva adiante
paz e sossego,
leva contigo
noturnas preces,
presságios fúnebres,
pávidos rostos
só covardia.
Que fique apenas
ereto e duro
o tronco estreme
de raiz funda.
Leva a doçura,
se for preciso:
ao canto fundo
basta o que basta.

Vem vento, varre!

Adolfo Casais Monteiro

Tuesday, March 21, 2006

Nude, 1936 by Edward Weston

Fechar no punho os estilhaços
os fragmentos que conservo do teu nome
e permitir que o corte se prolongue
pela mão
pelo braço
pelas têmporas
até que a repetida sentença da carne
atravesse a cartilagem e o osso
e se consuma no rito de um flagelo
apenas comparável à tua ausência.

Laura C. Skerk

Wednesday, March 15, 2006

Devolve-me os teus lábios


The Kiss IV by Roy Lichtenstein

Devolve-me os teus lábios,
Deixa-me beber nessa fonte
Que me inunda de vida
Encosta em mim a tua fronte
E deixa-te ficar,
Até derramar
Pelos reflexos da alma
O amor líquido pelas faces.
Seca-o até que a nascente
Persistente, volte a doer,
A apertar…
Devolve-me sem que tos peça,
Sem que eu saiba,
Para não me pesar …

Tuesday, March 14, 2006

Luz Zenital by A Brito

Eu que me aguente comigo e com os comigos de mim.

Álvaro de Campos

Monday, March 13, 2006

Voo


Allegorie de soie by Salvador Dali

Alheias e nossas as palavras voam.
Bando de borboletas multicores, as palavras voam
Bando azul de andorinhas, bando de gaivotas brancas, as palavras voam.
Viam as palavras como águias imensas.
Como escuros morcegos como negros abutres, as palavras voam.

Oh! alto e baixo em círculos e retas acima de nós, em
redor de nós as palavras voam.
E às vezes pousam.


Cecília Meireles

Friday, March 10, 2006

Primavera

Willow by Steven N. Meyers
O vento acalenta
o inconsolável chorão
no seu desalento...


Áurea de Arruda Féres

Spring 1928 by Tamara de Lempicka

A estação libidinosa,
Plena do gosto da vida,
Imprevisível, garrida,
Lânguida e leve, goza.

Plantas, animais e gente,
Cheiinhos de seiva e luz,
Erguem-se falicamente,
Ao que o destino os conduz.

Tempo de dor e prazer
Dias de sol e de chuva:
Um novo ciclo amanhece...

Sob a influência da Lua
Assim como tudo, acontece
São as sementes do ser.

Mary Celeste Bueno

Thursday, March 09, 2006

Spring Cleaning *


Flowers and Birds By Atelier LZC

Broto
Do solo,
até à
Frescura das pétalas.
Chuveiros purificantes
respingam-me
a face …
Aromas e Bálsamos
Encantam os sentidos,
Inebriantes …
A melopeia,
melíflua,
transforma-me!
Renovo as cores,
E tonalidades,
Emergindo do húmus,
serena.
Num doce afago
da Primavera.

*"Spring cleaning is the period in spring time set aside for cleaning a house, normally applied in colder climates, where the house is difficult to clean during winter. The phrase is also used as a general term to mean a concerted cleaning effort."
By Wikipedia

Wednesday, March 08, 2006

Ilusão

Jogger by Larry Silver

Tua paz é estanque, comedida
Na tua paz não cabe mais vida
A vida te ameaça
Corta e despedaça
Teu deus é único e infalível
Tua vida é linha reta e sempre em frente
Gostaria de saber o que te move
O que te faz vivo e não zumbi
Aonde pretendes chegar
Qual é o objetivo, tão estreito
Quem te contou
Que só existe um jeito?

Adriana Sampaio

Tuesday, March 07, 2006


The National Ballet of Cuba 2001 by Munoz
Abraça-me uma súbita frescura,
Como se o vento me batesse na cara,
Gélido,
E me acordasse lentamente.

A brisa que se acerca
Encoraja-me a levantar,
Erguer a cabeça,

Olhar…

Grata pelas palavras
E gestos
Daqueles que me acompanham
Diariamente
Recentemente
Anónimos
Amigos

Hoje apetece-me dançar!

Friday, March 03, 2006


Tears by Man Ray

Qualquer coisa me impede de caminhar,
Perco-me em divagações…
Deambulações …
Exercícios de memória,
Não me levam a lado nenhum.
A cabeça fervilha…
Quem culpar
Pelo estado em que me encontro?
E já penso em Psicólogos,
Astrólogos,
Tarólogos,
Torturo-me em Monólogos.
E não quero avançar…
Perdi a vontade!
A Vontade de olhar.
Não é não querer ver…
É uma impotência,
Uma demência,
Que se apoderou do pensamento.
Que tolda a lógica,
Que me adormeceu …
Mas quem te deixou assim?
Fui eu!
Fui eu!

Thursday, March 02, 2006

Song to the Siren




On the floating, shipless oceans
I did all my best to smile
Til your singing eyes and fingers
Drew me loving into your eyes

And you sang
“Sail to me, sail to me; let me enfold you”

Here I am, here I am waiting to hold you

Did I dream you dreamed about me?
Were you here when I was full sail?

Now my foolish boat is leaning, broken lovelorn on your rocks
For you sang “Touch me not, touch me not, come back tomorrow”
Oh my heart, oh my heart shies from the sorrow

I’m as puzzled as a newborn child
I’m as riddled as the tide
Should I stand amid the breakers?
Or should I lie with death my bride?

Hear me sing: “Swim to me, swim to me, let me enfold you”
“Here I am. Here I am, waiting to hold you”


This Mortal Coil

Wednesday, March 01, 2006

Cansaço


Nude 1952 by Bill Brandt


Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Com tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta –
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...

Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola de outro, e a voz dela!)

Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...

Álvaro de Campos