Tuesday, May 20, 2008

«Provavelmente toda a nossa vida é poesia. E todo o objectivo da nossa vida deve ser, quando acabasse, as pessoas dizerem: "Morreu um poema"»

Agostinho da Silva

In Requiem Figura II by Siro Anton

Monday, May 19, 2008

Inexistência ...

Space by Ana Yturralde




... de tempos mortos.

Friday, May 16, 2008

Artist Block by Ilja Hackman

Hoje nada me soa
Tudo me estranha
Escrevo e apago,
Grafo e anulo
Componho e elimino
Volto a escrever …
e a apagar …
Apago, já com força
Irritada
Azeda
Exasperada
Tudo me sabe a pouco
Nada me sabe a tudo
Quero mais,
Outra,
Diferente …
Não gosto, não é isto!
Não encontro em mim
A palavra
Que descreva o que em mim existe.
Imponho: Persiste!
Insiste …
Escrevo outra vez
Releio …
Replico!
Verifico que é vão apagar
Quando nada se disse.
E assim
se desiste…

Trompe-l'oeil


Escaping Criticism by Pere Borrell del Caso, 1874

Tuesday, May 13, 2008

Vontade de dormir

Sleep and his half brother Death by John William Waterhouse


Fios de oiro puxam por mim
a soerguer-me na poeira —
Cada um para seu fim,
Cada um para seu norte...

— Ai que saudade da morte...

Quero dormir... ancorar...

Arranquem-me esta grandeza!
— P’ra que me sonha a beleza
Se a não posso transmigrar?...

Mário de Sá-Carneiro

Monday, May 12, 2008

IV


Adormece o teu corpo com a música da vida.
Encanta-te.
Esquece-te.
Tem por volúpia a dispersão.
Não queiras ser tu.
Quere ser a alma infinita de tudo.
Troca o teu curto sonho humano
Pelo sonho imortal.
O único.
Vence a miséria de ter medo.
Troca-te pelo Desconhecido.
Não vês, então, que ele é maior?
Não vês que ele não tem fim?
Não vês que ele és tu mesmo?
Tu que andas esquecido de ti?

Cecília de Meireles, in Cânticos
Photo: Fervently by Emily Bem