Friday, April 28, 2006

Vai-te, Poesia!

Nightwar by Geoffroy Demarquet

Deixa-me ver a vida
exacta e intolerável
neste planeta feito de carne humana a chorar
onde um anjo me arrasta todas as noites para casa pelos cabelos
com bandeiras de lume nos olhos,
para fabricar sonhos
carregados de dinamite de lágrimas.

Vai-te, Poesia!

Não quero cantar.
Quero gritar!

José Gomes Ferreirra

Wednesday, April 12, 2006

A todos os poetas

Ícaro by Jorge Garcia


A todos vós que um dia pressentistes
os passos alumbrados da poesia
na vossa alma soar — saudoso dia
que mais humanos, graves, e mais tristes

para sempre vos fez... A todos vós
que, amando, o amor sentistes impossível,
que, vendo o mundo, amastes o invisível,
e, ouvindo o canto, ouvistes nele a voz

de um reino imerso em névoa como clara
ilha na solidão... E deslumbrados
as palavras no vácuo erguestes para

reanimá-las e reacendê-las,
a todos vós o céu acolhe, consolados
pela luz da mais casta entre as estrelas.

Alphonsus de Guimaraens Filho

Monday, April 10, 2006

Olhei de frente o amor

Inveja by Marta Gonçalves

Olhei de frente o amor e chorei.
Vi-o com olhos de fogo, procurando,
Inflamado, forjar o sólido elo
Que o une à ardente paixão,
Num tempo sem fim …
E quis tê-lo!

Despertados os sentidos sem lei,
Chorei – alegre por ti – soluçando:
Vives amiga o que há de mais belo!
Não é inveja o que sinto, é emoção.
É sabê-lo dentro de mim,
Sem poder vivê-lo…

Thursday, April 06, 2006


Tu lhes dirás, meu amor, que nós não existimos
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos, e partimos
Como a água das chuvas

Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura
É no vento que passa que a ouvimos
É no nosso silêncio que perdura.

Ary dos Santos