Monday, June 27, 2005

Pretérito Familiar...

“Vê a apresentação que fiz!”, enviaste-me o ficheiro PowerPoint automaticamente.
Após uma espera ansiosa, la chegaram os 66 Megas de doces loucuras, registadas para a posteridade.
Assisti radiante e demoradamente à passagem de cada slide…
“O que nós fomos!” - deixaste escapar – “Nessa altura …”
“Lá tas tu, com essas conversas pessimistas. Ainda somos!” – respondi com demasiado sangue, denunciando, sem querer, uma certa nostalgia.
“O que nós fomos…!”, repetiu …
“Tenta perceber, não podemos pensar que lá atrás é que foi bom! O nosso problema é esse … Vais ver, daqui a uns anos, vamos olhar para este ano, para este momento, para este segundo, e pensar a mesma coisa «Naquela altura...!» … Temos que nos concentrar no presente! No aqui, no agora!”
“Olha quem fala. Neste momento, aqui e agora, estás a ser racional, mas na prática nunca te lembras disso …!”


Photo by Geoffroy Demarquet

E envia-me um texto meu, não muito recente …

Amanhã, vou reler o que escrevi e esboçar um sorriso.
Amanhã, relembrarei com ternura e distância as palavras sentidas.
Amanhã, reconciliar-me-ei com as incertezas e o desespero.
Até lá, esperarei que o destino me sussurre à noitinha: Até amanhã!

Mas vejo o amanhã sentado à minha frente;
Sorrindo-me com uma expressão horizontal.
Cajado na mão direita, mão esquerda sobre a perna.
Sentado à espera de nada, (do amanhã talvez?!),
Qual estátua negra secular, imóvel, manchada pelas intempéries.
E a resposta sacode-me violenta:
Não existe esperança no amanhã, apenas no agora!
Olho à minha volta e tento captar tudo o que se passa, antes que se torne passado:
O voo circular de uma mosca sem nora,
As formas irregulares que se espalham pelas paredes!

Ai o amanhã, amanhã, és como a morte:
Nunca ninguém te viu!
Nunca ninguém voltou do amanhã…
Não! Amanhã, és pior do que a morte!
És a eterna tortura.
O paraíso que nunca chega!

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